quinta-feira, 14 de abril de 2011

ABSOLUTISMO POR MAQUIAVEL

Absolutismo, por Maquiavel.





DE QUE MODO SE DEVAM GOVERNAR AS CIDADES

OU PRINCIPADOS QUE, ANTES DE SEREM OCUPADOS,

VIVIAM COM AS SUAS PRÓPRIAS LEIS

(QUOMODO ADMINISTRANDAE SUNT CIVITATES

VEL PRINCIPATUS, QUI ANTEQUAM OCCUPARENTUR,

SUIS LEGIBUS VIVEBANT)

Quando aqueles Estados que se conquistam, como

foi dito, estão habituados a viver com suas próprias

leis e em liberdade, existem três modos de conservá-los:

o primeiro, arruiná-los; o outro, ir habitá-los pessoalmente;

o terceiro, deixá-los viver com suas leis,

arrecadando um tributo e criando em seu interior um

governo de poucos, que se conservam amigos, porque,

sendo esse governo criado por aquele príncipe,

sabe que não pode permanecer sem sua amizade e

seu poder, e há que fazer tudo por conservá-los. Querendo

preservar uma cidade habituada a viver livre,

mais facilmente que por qualquer outro modo se a

conserva por intermédio de seus cidadãos.

Como exemplos, existem os espartanos e os romanos.

Os espartanos conservaram Atenas e Tebas,

nelas criando um governo de poucos; todavia, perderam-

nas. Os romanos, para manterem Cápua, Cartago

e Numância, destruíram-nas e não as perderam;

quiseram conservar a Grécia quase como o fizeram

os espartanos, tornando-a livre e deixando-lhe suas

próprias leis e não o conseguiram: em razão disso,

para conservá-la, foram obrigados a destruir muitas

cidades daquela província.

É que, em verdade, não existe modo seguro para conservar

tais conquistas, senão a destruição. E quem se

torne senhor de uma cidade acostumada a viver livre

e não a destrua, espere ser destruído por ela, porque

a mesma sempre encontra, para apoio de sua rebelião,

o nome da liberdade e o de suas antigas instituições,

jamais esquecidas seja pelo decurso do tempo,

seja por benefícios recebidos. Por quanto se faça e se

proveja, se não se dissolvem ou desagregam os habitantes,

eles não esquecem aquele nome nem aquelas

instituições, e logo, a cada incidente, a eles recorrem

como fez Pisa cem anos após estar submetida aos

florentinos.

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